domingo, 7 de fevereiro de 2010

UH ! MANOS: ou quase isso

UH ! MANOS: ou quase isso

Um padre de joelhos reza ao seu Deus.

O matador (um velho barba branca) muda o sentido de sua viagem.

O padre sabe que sua hora chegou, ele olha ao alto, pede socorro.
Ele insiste, implora, mas parece que ninguém ouve sua voz, afinal madeira, gesso, plástico e cerâmica são 'coisas' sem vida, portanto não ouvem.
O padre se aborrece, mas conforma-se.

Alguém chegou, mas não bateu na porta, entrou e foi em direção ao altar, onde estava o padre, o alguém que entrara parou.

O padre de joelhos, perante o matador, implora: "PIEDADE, PIEDADE SENHOR... POR FAVOR, NÃO ME MATE, MYLORDE".

Então o padre pensa consigo: 'vou apelar a sua misericórdia e reconhecer que errei' e diz: "ERRAR É HUMANO, PERDOAR É DIVINO".

O matador fala pausadamente: “EU SEI!”.

O espanto invade o semblante do padre.

O reluzir ofuscante da espada afiada que passava rente ao chão vai subindo enquanto as mãos do matador sobem ao céu.

O matador pergunta: "QUAIS SÃO SUAS ÚLTIMAS PALAVRAS?”.

O passado volta ao presente e o padre relembra sua miserável vidinha.
Sua boca não se abriu, mas dava pra ouvir sua alma gritando.

Em pensamento fez sua última prece, também sua primeira feita com o coração: 'Deus, perdoai não a mim, pois não mereço teu perdão - duas vezes - mas peço por aqueles que na sua ingenuidade e cegueira espiritual seguiam e obedeciam, sem questionar, as minhas palavras. Palavras de perdição que os levarão ao lugar para onde vou, se não se arrependerem enquanto ainda há tempo. Pai, por favor, perdoai-os. Quanto a mim, faze a Tua vontade'.

Nem mesmo "A casa de Deus", as roupas consagradas, os objetos santificados, o conhecimento sacerdotal adquirido e a devoção equivocada puderam protegê-lo, pois sabia o que era justo, mesmo assim não o fez.

O sangue jorrou caindo pelo chão e por suas vestes límpidas.

A espada decepou-lhe ao pescoço. A cabeça rolando pelo chão, dos seus olhos correram lágrimas.

O matador ao concluir seu desígnio parafraseia a fala do falecido padre:"ERRAR É HUMANO, PERDOAR É DIVINO",
e conclui:"MAS INFELIZMENTE, PRA VOCÊ, EU NÃO SOU UM DEUS, SOU APENAS UM HOMEM".



Criado e Ilustrado por Josias Silveira da Silva.

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